7.11.05

Maketing no futebol

Como é possível que um jogo entre duas das equipas históricas que lutam pelo estatuto de 4º grande do futebol português tenha como assistência pouco mais de 2 mil pessoas? Atenção, estamos a falar de um estádio em Lisboa, com um enquadramento magnífico e cuja capacidade ronda os 30 mil lugares? Trata-se de um problema estrutural e não apenas conjuntural. Se quisermos fazer uma analogia com o conceito de Marketing-mix, vemos que:

1) Produto – A qualidade do futebol praticado é cada vez mais fraca. As equipas investem na formação e acabam por vender os seus jogadores mais influentes e com maior margem de progressão. As arbitragens, consciente ou inconscientemente, afectam a verdade desportiva, têm influência nos resultados e contribuem para o mau espectáculo. O Estado e as Autarquias gastam balúrdios na construção e manutenção dos novos estádios para que os mesmos fiquem vazios ou sem qualquer utilidade, o que prova que o dinheiro gasto nestas novas embalagens não pode ser considerado um investimento mas sim um custo, aproveitando mal o dinheiro dos contribuintes.

2) Preço – Os preços dos bilhetes são exorbitantes e a relação Qualidade Preço é muito má. À excepção dos que habitam na região ou proximidades, ir ver a bola a Lisboa ou Porto implica gastos com o transporte (combustível, portagens), alimentação e o preço do bilhete. Se os jogos fossem a uma hora decente, as pessoas até se poderiam deslocar de transportes públicos, mas ir a Lisboa de comboio para regressar de madrugada, ainda por cima quando poucas horas depois começa a semana de trabalho, não é para todos. Não admira portanto que as pessoas prefiram ver os jogos sentadinhos no sofá e à lareira.

3) Distribuição – Não podemos comparar com as assistências em Itália (58.000.000 habitantes) Inglaterra (50.000.000 hab.) ou Espanha (40.300.000 hab.), porque estamos a falar em mercados completamente distintos. Portugal tem somente 10.500.000 habitantes, e se destes 1% for ver futebol, num fim-de-semana temos 105.000 pessoas nos estádios, um número 5 vezes inferior à potencial dimensão do mercado Italiano.

4) Promoção – A transformação dos clubes em empresas afecta a genuína lógica desportiva e competitiva. Temos administradores e dirigentes desportivos que nada percebem de futebol, alguns indiciados de crimes de corrupção, tecendo comentários e considerações que nada abonam em favor da promoção do desporto rei. Para além disso, há cada vez mais empresas e pessoas a depender desta indústria, criando uma rede paralela de interesses, muitos deles obscuros.

Convém relembrar que estamos a falar num produto / marca bem enraizado na cultura portuguesa e que, aparentemente, não necessitaria de grandes esforços para a sua aceitação pelas massas. Agora são cada vez mais ugentes medidas de reestruturação.

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