16.8.05

A indústria dos incêndios

Li recentemente um artigo do jornalista da SIC (José Gomes Ferreira) sobre a calamidade dos incêndios em Portugal e resolvi também aqui tecer alguns comentários. Já não há grandes dúvidas de que está a nascer uma nova indústria dos incêndios. O país está a arder porque muita gente quer que ele arda e ganha com isso…!
.
Sabemos que a grande maioria dos incêndios tem mão criminosa; contra factos não há argumentos. Agora é urgente saber quem são essas pessoas e o que ganham com isso. É urgente estudar e compreender este fenómeno, de forma a evitar catástrofes que preencham todos os dias os noticiários durante o Verão.
.
.
.
Creio que todos nós temos um instinto pirómano ou pelo menos um fascínio pelo fogo, algo que remonta aos nossos antepassados. Porém, o perfil do pirómano é sempre do indivíduo débil mental, alguém que não distingue a realidade do imaginário e que tem um prazer inóspito de ver o poder e a força do fogo…estará esse perfil correcto? Todo e qualquer artista gosta que a sua obra seja contemplada, e se o principal móbil dos incendiários for esse, as televisões já estão a dar uma ajudinha.
.
Se estivermos a fazer um zap durante as notícias, geralmente ganha o canal que conseguir ter um repórter em directo o mais próximo possível das labaredas…ou a entrevistar a pessoa que perdeu a sua casa ou a sua fonte de rendimento. Porque é que as televisões dão tanto destaque a estas tragédias e colocam repórteres em directo a atrapalhar o trabalho de quem, voluntariamente, dá o “coiro” para salvar pessoas, animais e bens? É isto que se chama informação? Será que a guerra das audiências também aqui se reflecte?

Para além disso, actualmente o incendiário sabe qual é o distrito com maior ou menor risco de incêndio, basta estar atento à “metereologia do fogo”. Quem mais valia essa informação nos dá? Não será melhor apostar em campanhas de prevenção e sensibilização, para que anualmente as matas sejam limpas? Não será esta sensibilização tão ou mais importante do que a da reciclagem de resíduos?

Infelizmente são já muitos os que estão envolvidos nesta indústria, mais do que aqueles que trabalham ou dependem da silvicultura. Uma empresa que vende equipamentos de combate e prevenção de incêndios têm notoriamente interesses comerciais. Um madeireiro que pode comprar a madeira mais barata também. Alguém que quer adquirir um terreno e pretenda reduzir o valor do mesmo também poderá ter interesse nesta indústria. Há terrenos onde se registaram incêndios há poucos anos e que já estão urbanizados ou em vias de o ser, contra o que diz a lei.

E o Estado Português, o que faz? Declara o estado de calamidade pública para pedir mais fundos e apoios da União Europeia.

Porque é que, ao contrário do que acontece noutros países europeus, o combate aéreo aos incêndios em Portugal é TOTALMENTE concessionado a empresas privadas?

Porque é que o Estado tem 700 milhões de euros para comprar dois submarinos e não tem metade dessa verba para comprar uma dúzia de aviões Cannadair?
.

.

O Jornal de Notícias revelou hoje que nos quartéis, os GPI (Grupos de Primeira Intervenção – os primeiros a avançar em cenário de fogo) estão formados por estudantes em férias e menores de 18 anos, contrariando a lei em vigor. Em resposta a essa notícia, segundo o assessor de imprensa do Ministro da Administração Interna, o Governo vai pedir ao Serviço Nacional de Bombeiros, ainda hoje, uma lista completa dos elementos que compõem os Grupos de Primeira Intervenção (GPI) de forma a verificar a legalidade da situação.

.
Será que o Governo desconfia destes jovens bombeiros como possíveis incendiários ou será por serem menores?

Moral da história: a legalidade acima de tudo. Enquanto isso as nossas florestas vão sendo devastadas!

1 comentário:

Anónimo disse...

__ Também é "importante pensar" em todos os que defendem a expansão do PINHEIRO - Manso ou Bravo. Os que ganham (e muito) com o fogo, são todos ferverosos adeptos do Pinheiro. Eles não falam dos carvalhos, dos castanheiros, dos sobreiros, dos "pseudo-texugas", etc. por que, deste modo, o negócio ia abaixo.-
__ Esta é uma pista. Ponham mais engenheiros silvicultores e agrónomos a falar na televisão e menos bombeiros, presidentes de ligas de bombeiros e este ou aquele da "protecção civil", mais este ou aquele general, este ou aquele piloto de "meios aéreos", etc. ... É que estes é que são os ..... tais ..... que ...... largos ......$$$ €€€€
__Adiante....